Discurso da terceira idade
Emoções me rondam. Vertem do céu como chuva de flechas, voam como águias perseguindo a caça! Ameaçam-me. Dentro de mim um turbilhão rouba-me o centro e me domina. Subjugado, torno me amargo, descontente com tudo e com todos. Quando a idade chega, a gente se irrita por quase tudo; o som da tv, o cachorro do vizinho na varanda, sobre nossas cabeças; a criança que corre de um lado para o outro, pula, grita, chora, esbanja vitalidade! Faz nos lembrar da nossa, que se foi. Tudo nos afronta! O corpo dói. As juntas aguardam a hora de serem juntadas e levadas, todas juntas, ao ecoponto. É lá que se põe um ponto final! Mas antes, nada que uma graxa não resolva. Em alguma prateleira, sempre haverá uma planta milagrosa ou uma pasta, capaz de lubrificar e revitalizar as articulações cansadas. Ainda não chegou a hora. Não é tempo de ponto final. Então vamos aderir às reticências e continuar… Ainda que seja só no discurso, uma vez que a gramática nos permit...