MADRUGADA
MADRUGADA
Na madrugada, é onde se encontram, os bêbados, os boêmios, os largados e os espertos.
Os largados, porque já passaram por todos os estágios do submundo noturno e, por isso, supostamente, não merecem mais de seus entes queridos, o incentivo necessário para retornarem à convivência reta e formal, de uma sociedade alinhada aos padrões politicamente corretos.
Bêbado não tem dessas coisas, bêbados não se preocupam com padrão, nem com retidão. Não têm medo, não têm vergonha, não têm preconceito. Não tem respeito, nem pela própria vida. Bêbado, quase sempre, não tem nada, porque se um dia teve, já perdeu quase tudo. Agora, dorme esquecido nas calçadas e tem na cachaça o seu maior escudo!
Na madrugada, os bêbados, perdem o rumo de suas casas, ou sentem-se envergonhados de voltar, em hora tão imprópria. Afinal, bêbado tem consciência! Não suporta a ideia de ser um estorvo. Ainda mais nessas horas de sagrado descanso! Mas às vezes, mesmo querendo o reencontro de quem lhes dê um pouco de afeto, são esquecidos por alguém, que agora está sóbrio, mas que não se lembra de onde deixou seu parceiro de copo, quando também estava embriagado! Recuperou-se da bebedeira e foi embora despreocupado, sem culpa, sem remorso, aproveitar sua cama quentinha, já pensando na próxima noitada!
Os boêmios amam a madrugada! Percebem nela, uma certa reciprocidade de sentimentos, o DNA de aventureiro e uma certa semelhança de caráter, imprescindíveis nas questões românticas! Depois de alguns copos de cerveja, encorajam-se e se lançam em busca de peripécias amorosas. Raramente, encerram suas jornadas, sem a recompensa das investidas!
Os espertos, porque sabem aproveitar as lacunas, deixadas pela concorrência e as oportunidades que lhes são servidas em “bandeja de prata”. E, quando estas não ocorrem naturalmente, lançam mãos de suas artimanhas, mas não frustram os seus objetivos!
É na madrugada que se encontra a liberdade de raciocínio, porque há menos barulho e menos interferência de intrometidos, com suas “sugestões” coercitivas!
A madrugada tem proteção na lei do silêncio!
Na madrugada, o cidadão comum se recolhe, porque precisa estar inteiro no dia seguinte. Não pode falhar no cumprimento de suas tarefas. Não pode perder as rédeas de sua conduta impecável, sob pena de ser, também, marginalizado.
Na madrugada, se permite a nudez e o enrosco debaixo das cobertas, sem chamar a atenção dos curiosos. A madrugada permite aventuras, que fora dela, cairia na boca do povo. Um escândalo!
A madrugada hoje, teve também, minha companhia. Juntos, geramos esse texto e nos despedimos. Agora, enquanto tento adormecer, ela tende a virar dia!
José Assunção da Silva
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