TRAJETÓRIA:
DOS ANOS SESSENTA, AOS SESSENTA E POUCOS ANOS.
Lembro-me, de quando eu era criança e
minha mãe dizia que eu era muito "chorão”. Naquele tempo eu ficava com
raiva, achava aquilo uma ofensa. Afinal, o que pode fazer uma criança “cerceada”
de seus direitos, senão chorar? Mas era compreensível, porque vivíamos em
um tempo de muito rigor! Era um tempo em que a palavra, por si só, tinha
que ter o peso do compromisso. Selava acordos e era respeitada!
Ofensa de verdade, era ser tachado de
mentiroso ou de covarde, porque o mentiroso não tem palavra e assim, não pode
oferecer a maior das garantias – o comprometimento. (É claro que estas
considerações se restringem aos padrões daquela época). Por sua vez,
o covarde é um fraco, que nunca assume sua hombridade!
Naqueles dias, em todos os setores, imperavam
o machismo e o autoritarismo, como pilares de uma sociedade, ainda retrógrada,
mas de muita personalidade. Não se permitia que um homem tivesse sensibilidade
e chorasse. E eu, mesmo sendo criança, era cobrado só por pertencer ao sexo
masculino. Mesmo quando das severas ações corretivas de meu pai, dado a um ou
outro deslize cometido, o que eu mais ouvia era: – Homem não chora!
Não desprezo as lembranças do passado, aliás
tenho por elas, profunda gratidão, nem acho que nos dias de hoje, vivamos com
mais racionalidade, ou que tenhamos mais compreensão uns com os outros.
Não vejo com muita clareza, uma divisória entre aqueles tempos e os dias
de hoje, que me permitam afirmar se um é o certo e o outro é errado.
Entretanto, hoje é aceitável que um
homem externe seus sentimentos sem comprometer a sua masculinidade. E nesses
tempos difíceis, estamos todos com a sensibilidade aguçada. O sentimento de
incerteza permeia nossos afazeres cotidianos, invade nosso espírito e
compromete nossas crenças e nossos planos!
Não obstante, nossas esperanças se
renovam sempre, porque assim é a vida. As coisas vão e vem, começando e
encerrando ciclos. Nesse momento eu me sinto assim: encerrando, ou começando
mais um ciclo de minha vida!
A importância desse momento, me dá sim,
uma vontade de chorar! Não é um choro de tristeza, nem de alegria, é um misto
de sensações e de lembranças de todo tipo, que me ocorrem e se encarreiram na
tela de minha mente e de minha alma! A trajetória de uma vida, em segundos,
passa e repassa incessantemente nessa “telinha” mágica! E o roteiro
se desenrola, permeado de inúmeras situações, boas e más. Realizei trabalhos
importantes, outros, nem tanto, mas sempre com a mesma seriedade e esmero.
Conheci pessoas, aprendi com todas elas
e ensinei um pouco para algumas delas. Muitos passaram por mim como meros
colegas, mas alguns foram e sempre serão meus eternos amigos!
Com esse sentimento, aposento-me de
minhas funções como profissional e do convívio diário de colegas e amigos.
Estou certo de que cumpri minha missão, senão com brilhantismo, porque a
modéstia não me permitiu enxergá-lo, mas certamente, com a dedicação de que
toda empreitada é merecedora! Esta sim, sensível, a ponto de poder apalpá-la.
Minha dedicação, sempre foi uma de minhas marcas mais fortes. Agora, é o legado
que deixo a todos.
José
Assunção da Silva
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