VERDADE X MENTIRA

 

                             

É difícil imaginar uma pessoa que nunca tenha mentido! Como seres humanos, somos dotados de muitas fraquezas e imperfeições. Sob o efeito de tais fraquezas, em dados momentos, nos permitimos abandonar nossas crenças mais arraigadas, criar motivos, razões, justificativas e argumentos para proteção de nossos atos. Sendo assim, é bastante razoável, que em determinadas circunstâncias, nos sintamos compelidos a mentir, ainda que a mentira tenha sido uma mentirinha, pequenina e “despretensiosa”!

 Cabe aqui uma correção: É comum ouvirmos dizer: que essa ou aquela afirmação, esse ou aquele ato, trata-se de mera ilação, sem qualquer propósito, e que, portanto, não merece atenção. – (...) não dê ouvidos para essas coisas. Mentira. Não existe ato, gesto ou afirmação despretensiosa. Toda afirmação ou negação sempre busca atingir um propósito. De outra maneira, não  se justificaria ser sequer mencionada.

 Uma mentira, portanto, mesmo travestida de “brincadeirinha despretensiosa”, precisa ser avaliada com absoluto rigor, à luz dos fatos. Esses sim, relevantes ou não, certamente sofrerão interferências. 

 As interferências podem ser danosas e estes danos podem ser irreversíveis. Melhor evitá-los. Cedo ou tarde, a verdade haverá de prevalecer. O mentiroso, desmascarado, certamente sofrerá as consequências.

 Quando isso acontece, mesmo as maiores virtudes ficam comprometidas. Em meio a mentiras, fica difícil acreditar numa única verdade!

Possivelmente, haverá ocasiões em que a mentira consiga se esconder ou se travestir de verdade! Porém, mesmo camuflada e antes de ser descoberta, não protegerá quem a proferiu. O simples fato de se guardar no peito, o segredo produzido por uma mentira, pode levar uma pessoa aos patamares mais elevados da insegurança e do medo!

 Contudo, existe exceções. Conheço pessoas que têm na mentira sua melhor companhia. Suas afinidades com a mentira são tão estreitas, que já nem sabem quando estão mentindo e quando não estão. Acreditam na sobrevivência de ideias vazias, justificativas infundadas e na impunidade, em detrimento dos males originados de seus atos. Assim, vivem suas vidas de “Alice[1]”.

 Enganam-se a si mesmos, mergulhados na crença solitária de suas afirmações, mas veem-se condenados ao isolamento. Sim, porque ainda que demore, haverá de lhes faltar quem possa dar vazão às fantasias de suas falas. Até mesmo os mal-informados, indivíduos fáceis de serem ludibriados. E aqueles que se alimentam de notícias fantasiosas e improcedentes, só para dar vazão à suas necessidades mesquinhas da fofoca e da intriga.

Nem esses lhes darão ouvidos. Mesmo considerando, que quase sempre estão presentes nas mais variadas manifestações, sem sequer saber dos propósitos destas.

 Entretanto, apesar de toda adversidade, alguns ainda afirmarão convictos, que mentem por uma causa nobre. Mentem uma mentirinha sem maldade e, portanto, sem danos. Afirmarão que encontram na mentira, a capacidade de atenuar sofrimentos, já que a verdade, às vezes, pode ser cruel e causar sofrimentos desnecessários. Então, uma pequena mentira poderia trazer consolo a um coração machucado; ou ainda, em certos momentos, de nada adiantaria a verdade, porque um espírito fragilizado precisa é de conforto e não de verdade!

 Com tais argumentos, valorizam e cultuam a mentira, elevando-a ao status de necessário “mal menor”.

 Mas, considerando que em algum momento a verdade será revelada, proponho a seguinte reflexão:

·     Vale a pena consolar com a maciez enganosa da mentira e depois ferir com o aço contundente da verdade? Não seria crueldade oferecer tratamentos tão adversos?

·      Se é necessário sofrer, que o sofrimento seja breve. Assim, o tempo de recuperação será maior!

·     Não adianta apagar as luzes para dar conforto aos olhos e ao mesmo tempo, preparar a cilada, com a ajuda da escuridão!

·     Quem ama a escuridão, não pode ser parceiro da luz!

·    Não se pode, ao mesmo tempo, aliar-se à mentira e defender a verdade!

                                    Faz-se necessário, eleger o lado preferido. Entre a                        mentira e a verdade existe um profundo e intransponível abismo!

Portanto, seja verdadeiro. Seja verdadeiro nos sentimentos, nas palavras e nas atitudes. Faça com que os sentimentos, as palavras e as atitudes possam individualmente se sustentar, mas que acima de tudo um seja o respaldo do outro.

 Não permita que pairem dúvidas nos seus atos, para que ninguém ouse contestar suas palavras. Mas, se apesar de todo cuidado, cair em situação embaraçosa, se numa cilada o colocarem em teste, na tentativa de desacreditá-lo e assim diminuir o seu valor, não se desespere, porque a verdade será o seu escudo!

 

José Assunção da Silva

Blog:

Facebook:

Instagram:

 

 



[1] Alusão ao conto: “Alice no país das maravilhas”

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Discurso da terceira idade

O Poeta, a poesia e os críticos.