A HORA CHEGOU!


A mais de 2000 anos, pressentindo a chegada dos soldados romanos para prendê-lo, Jesus disse: “Pai, é chegada a hora”.

A partir daí, tornou-se expressão comum, sempre que se aproxima o momento crucial de algum evento importante. Seja no exato momento em que começa uma partida de futebol, ansiosamente aguardada pelos torcedores, seja na hora do embarque do viajante, ao se despedir de seus parentes e amigos, ou na hora da prova final na faculdade e tantas outras situações análogas, mas principalmente, naquele momento fatídico, que determina o final da existência de uma pessoa, costuma se dizer: “A hora chegou”!

Entretanto, é possível emprestar a ela, uma conotação mais espirituosa e tornar mais leve o ônus da perda! A intenção aqui, é dar a essa expressão tão intimidadora, um significado mais suave e mais agradável, de forma a distanciar-se de seu verdadeiro significado!

A hora chegou. Chegou bem agora, mas já pensa em ir embora! Veio acompanhada de minutos e segundos. Não trouxe terceiros. Não sai com terceiros, porque cuida dos segundos, como se fossem seus filhos! Respeita os minutos como seus pares, mas não sabe quem foi o primeiro! 

Os segundos muito espertos brincam de pega-pega, dando voltas no relógio! Ninguém os pega. Quando pensam que chegaram, já foram. Rápidos como um raio!

São diferentes da hora. Essa senhora já madura, está comprometida com a marcação do tempo. Juntou-se a outras senhoras, igualmente maduras e comprometidas. Juntas, construíram o dia e depois a noite. Queriam que ficassem juntos, como um casal, mas o dia é temperamental, muito agitado! Gosta do barulho, do calor do sol e adora acordar com o canto dos pássaros! Mas com ele, não tem essa de cadência, de malemolência... Ele se impõe. Impõe o próprio ritmo! Porém, cá entre nós, dizem que não quis ficar com a noite, porque tem medo do escuro. Quem diria!

A noite é diferente. Calma, gosta da penumbra, adora ouvir o coaxar dos sapos na lagoa, o canto dos grilos e gosta de abrigar os namorados! Na hora do abraço, do amasso e da mão boba, protege-os nos cantos e nos becos, abrigados da luz e nos motéis. O dia por sua vez, permite também os arroubos amorosos. Porém, não sabe ser discreto, não guarda segredos.

 Por falar em ser discreto, advinha quem foi embora...

A hora se foi. Quiseram se aproveitar dela, se foi. Disseram: aproveitem que a hora é essa: então saiu de mansinho e ninguém viu.

Tal qual chegou, não fez cerimônias. Não parou, não conversou, só cumprimentou e saiu, acompanhada de minutos e segundos que lhe faziam segurança.

Só os minutos, eram sessenta! A hora é assim. Não para, nem espera. Apenas cumpre o seu tempo. Não se atrasa, não se adianta. Respeita quem dela depende, mas não renuncia a sua pontualidade britânica!

 

José Assunção da Silva

 

 

 

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