A MATURIDADE VIROU “TOQUE”

De acordo com alguns dicionários da língua portuguesa, a palavra “Adulto" significa“aquele que atingiu a maioridade legal”; “que atingiu o estado em que pode reproduzir - se”; “pessoal emocional e/ou intelectualmente maduro”; “ponderado, que se comporta de modo equilibrado". 

... Considerando a amplitude de significados, podemos perceber que ser adulto não é apenas ter idade superior a 18 anos. Isso é apenas maioridade legal. A maioridade legal pode ser delimitada pela idade cronológica e serve muito bem a muitos propósitos.

Entretanto, a maioridade plena, passa por um processo de amadurecimento biológico, intelectual e emocional. Quando um indivíduo alcança o seu maior porte físico, consegue ter a máxima clareza de ideias e é capaz de agregar às suas atitudes, elementos de gerenciamento e controle de suas emoções, ou seja, analisar minimamente os fatos, antes de agir precipitadamente; tomar medidas baseadas mais na razão do que na emoção; analisar os prós e contras e, por fim, tomar decisões conscientes; aí sim, pode se dizer que é um indivíduo adulto.

A maioridade legal e o amadurecimento biológico são facilmente detectáveis, respectivamente, por meio de documentos individuais de registros e pela observação do desenvolvimento dos aspectos físicos.

A maturidade intelectual e a maturidade emocional são de outra natureza. Estão mais ligadas a traços de personalidade e podem se desenvolver com maior ou menor velocidade e intensidade, até atingirem seus limites máximos.

Percebe-se que determinado individuo atingiu esse estágio, quando seus atos são lastreados por decisões embasadas em algo que as sustentem. 

A personalidade se molda ao longo de nossa formação, física, intelectual e emocional. Geralmente, consolida-se quando atingimos a fase adulta.

Cronologicamente, costuma levar em torno de vinte anos. Porém, não raramente, pode haver exceções.

É comum nos depararmos com crianças, que defendem ferrenhamente suas convicções, fazendo valer suas vontades. Da mesma forma, muitas pessoas, cuja idade já ultrapassou a maioridade legal, e, no entanto, não têm capacidade de impor seus pontos de vista, nem, tampouco, tomar as mais modestas decisões. Agem, invariavelmente, em função de ideias de terceiros.

Na medida do amadurecimento de um indivíduo, crescem também, as suas responsabilidades. Faz – se necessário, aumentar a quota de acertos e minimizar os erros, porque adulto é sempre referência e a juventude precisa de boas referências.

Além disso, o ser humano comete erros, mesmo sendo adulto, mas quando os comete, assume-os, e, ao assumi-los sofre, porque medidas corretivas são sempre dolorosas.

Por décadas, vimos os ciclos da vida humana se repetirem de maneira quase linear, passando regularmente por cada estágio, sempre no mesmo ritmo. Assim se sucediam, o tempo de ser criança, o tempo da adolescência e finalmente a fase adulta.

Hoje, esses estágios da vida parecem estar se modificando de tal maneira, que não sabemos mais quando um indivíduo deixa de ser adolescente para se transformar em adulto. Os jovens parecem não querer assumir o seu papel. A impressão que tenho, é de uma proliferação de fases intermediárias.

Assim, criaram-se fases entre a primeira infância e a adolescência e diversas outras entre a adolescência e a fase adulta. Com essa proliferação de fases, os indivíduos transitam indo e vindo de uma fase para outra, mas nunca assumem a maturidade plena.

Os jovens se interessam pela maioridade legal, para poderem agir, sem restrições, nas coisas de seus interesses. Interessam-se por maturidade biológica, porque podem fazer sexo, mas não se interessam por maturidade emocional, porque não lhes interessa ser responsáveis por nada, enquanto tiverem alguém, que por eles responda.

Não se preocupam com o estabelecimento de novas células familiares, nem com preservação da espécie, não se preocupam em deixar legado, mesmo porque, não têm para quem deixar.

São confiantes ao extremo. Por isso não se preocupam com o futuro. Acreditam que tudo pode ser modificado, adaptado e resolvido, como virar uma chave em um painel de instrumentos! 

A organização defendida pelos mais velhos é vista como “toque”. Quando alguém reclama de um objeto fora do lugar … é “toque”; quando se reclama da louça suja e amontoada sobre a pia, ou abandonada no quarto, debaixo da cama, é “toque”.


José Assunção da Silva

 

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