O ACOMPANHANTE



Ontem pela manhã, acompanhei minha esposa a uma sessão de tratamento odontológico. Foi uma aventura! Rapidamente, ela adentrou aquele consultório e lá se acomodou. Enquanto aguardava, não pude deixar de observar nas paredes da antessala, uma série de gravuras, graciosamente distribuídas, em perfeita harmonia! Todas transmitindo um certo ar de sobriedade e elegância! (Coisa muito peculiar dos dentistas). Tudo parecia perfeito para distrair as atenções e tornar agradável o tempo de quem espera. Porém, esgotada a minha curiosidade acerca da singela decoração, subitamente minhas atenções se voltaram para o zumbido que vinha lá de dentro. O famoso motorzinho acabara de entrar em ação.

Da poltrona onde me instalara, pude sentir a dor dos instrumentos perfurando minhas gengivas! Aquela agonia incessante torturou-me pesadamente, como se eu estivesse frente a frente com o “inimigo”! O som do insistente zumbido ecoava em meu cérebro dando vida à imaginação!

Com esforço, retornei à realidade afastando-me da angústia e ocupando minha mente em visões menos doloridas, racionalizei. Busquei um ângulo mais confortável, colocando-me como mero expectador! Passei então a meditar sobre o tema…

É preciso ir ao dentista regularmente. Sempre há algo que se possa fazer, em favor do nosso sorriso e de nossa saúde bucal. Mas convenhamos: sentar-se diante do dentista e ficar por quarenta ou cinquenta minutos de boca aberta, enquanto ele vasculha nossa cavidade bucal, ah! Isso para mim é tortura!

E o engraçado é que o dentista pergunta:  está tudo bem aí? Conversa, especula   a alta do dólar, comenta sobre o último jogo de futebol, fala de coisas que, sei lá. E você ali, de boca aberta, tentando se comunicar em “libra” ou em “mimiquês”.

No final da sessão, não se sabe se o dentista entendeu seus argumentos. Mas também não importa, o que importa é que o tempo foi cumprido e você continua vivo.

Neste momento, porém, ainda não é possível sorrir. Porque se o fizesse, os efeitos da anestesia, transformariam seu pretenso sorriso, em uma ridícula e horrorosa careta!

Então, conclui-se, que o melhor a fazer, é se despedir discretamente com um aceno cordial, incorporando as atitudes de um aristocrata ao ser reverenciado pela plebe. Pelo menos, parecerá mais digno e não dará ao seu carrasco (dentista) a sensação de vitória absoluta!

 José Assunção da Silva

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