A COMUNIDADE E A PRETENSA BURGUESIA
A pessoa adquire um apartamento em um daqueles condomínios bem básicos, de uma dessas tantas cooperativas que existem por aí. O condomínio é simples. Não tem itens de luxo como espaço “fitness”, espaço “gourmet”, área “pet”, piscinas, “play grounds”, salão de festas, jardins elegantes de algum paisagista de nome pomposo, quadras disso ou daquilo…
Os moradores são pessoas simples. Aos domingos tem animada mesa de truco, ali nas escadarias, na entrada do prédio. Quem chega, pede licença, um pezinho aqui, outro acolá, vai com Deus! Quem quer brincar, para e senta-se no chão, como todos ali. Não tem frescura!
Todos se conhecem, todos se cumprimentam! Organizam as próprias festas, vão juntos nadar na Praia Grande uma vez por ano (de excursão). Lá, fazem a “vaquinha” da farofa, jogam futebol de areia, e, do seu jeito, tornam o convívio bastante agradável! Desavença? De vez em quando uma rusguinha, por causa do jogo entre Corinthians e Palmeiras. Depois passa!
Porém, quando passa pelos pomposos condomínios do bairro, imagina: Um dia eu vou morar em um desses condomínios; vou ser chic:
Aí a providência divina coopera com o progresso do indivíduo. Ele cresce na carreira e entra de cabeça na nova empreitada!
Agora, instalado em um dos belos apartamentos do “xicmasnentanto Condomínio Clube” ele pensa: Eu consegui; estou onde eu mereço estar. Aqui as pessoas são educadas. Vou ter uma vida tranquila…
Ledo engano. Tudo poderia ser tão simples, mas aquele morador do andar de cima… o cara não se toca. Mal amanhece o dia e o tormento começa. Parece que lá em cima, bem no meio da sala dele, tem uma quadra de futebol! Quando tem jogo na tv, parece que o teto vai desabar! Quando a bola para de rolar lá no estádio, começa a quicar no teto sobre a minha cabeça. Na sequência, começa a sessão de arrasto de peso. O cara é um esportista! Tem corridas com pisadas vigorosas. Tum, tum, tum, bate o calcanhar no chão. Estremece tudo! E objetos caem no chão, ou são lançados, sei lá. Só sei que o sossego passa longe daqui!
E o Ronda, atendendo ao meu pedido, entra na minha sala as 23h30m. (não é a primeira vez que isso ocorre). Boa noite "seo" José. Tudo bem com o senhor?
Ouve tudo, mas contemporiza.
-A gente faz o que pode né seo José. A gente faz o relatório, notifica…
-E daí? Onde está o resultado? E os meus direitos, não contam? Eu quero providência. Minhas contas estão em dia, rigorosamente em dia. Por que então, não posso ter um pouquinho de paz?
Enquanto isso, lá na cooperativa, a comunidade também não é santa. De vez em quando rola um “barraco”. Mas no dia seguinte:
-Foi mal parceiro. Ontem rolou uma treta llá em casa. Desculpa aí, valeu?
-Tamo junto!
São dois mundos distintos. De um lado, a comunidade cooperativista dos condomínios sem pompa. De outro, um grupo de pessoas mais bem sucedidas, com poder aquisitivo ligeiramente superior, esforçando-se para ser referência, mas esbarrando nos vícios de alguns de seus componentes, que os nivela por baixo, na comparação com os verdadeiros condomínios de elite.
Acho que não quero mais crescer na vida! Tenho medo do que vou encontrar lá na nobreza! Será que vale a pena?
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