Depois dos Setenta
O que restou de nós? A carcaça envelhecida, repleta de novas curvas, todas convergindo no sentido oposto ao de nossa vontade. Curvas que contrariam padrões de estética e de beleza e que por isso, se escondem por debaixo dos panos. Uma vontade enorme de ter ao menos lampejos de energia e sensualidade. Ou que fosse só energia. Bastaria para refrigerar nossos pensamentos, fazendo-os fluir. Mas o que resta é muita saudade e pouca esperança.
O que restou pra nós?
Na cabeça, alguns fios de cabelos teimosos, mas também cansados, envelhecidos e sem cor. Uma confusão enorme entre domingos e feriados, já que todos os dias são como feriados, talvez a única vantagem nessa fase da vida.
Nas mãos, dedos frágeis, incapazes de segurar com firmeza o corrimão da escada, ou de apontar a direção que queremos tomar, para que os caminhos se abram...
Nas pernas, a dor insistente, sempre que ousamos sair do sofá ou da cama!
E por falar em cama, o que restou? As marcas de nossos pesados corpos, impressos no colchão. Quase duas “crateras” moldadas pela obesidade. Ainda assim, nos convida ao convívio cotidiano duas vezes ao dia. Uma à tarde, após o almoço. Outra, à noite, para reclamarmos da insônia, desconjurando o sono da tarde. Lá é também o local onde fazemos nossas reflexões e cultivamos a lembrança de outrora! Nada mais.
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