Assuncao55

  O Poeta, a poesia e os críticos.     Não são raras as vezes em que um poeta sofre, na tentativa de dar corpo à sua obra, e esvaziar sua mente. Debruça-se sobre o texto teimoso, e ali passa horas tentando. Nem sempre consegue, mas quando se encontra, aliviado esboça sua arte e descansa. Depois, com calma, retorna ao trabalho, e ajusta o desfecho apropriado.      Porém, nem sempre se satisfaz com o resultado de seu trabalho. Poetas são perfeccionistas. Eles costumam ver harmonia no meio do caos. Vêm beleza no meio da miséria, encontram paz em cenário de guerra!      Poetas, são puros de coração!      Às vezes são debochados. Constroem frases enigmáticas, que só fazem sentido para si mesmos, se fizerem! e lançam nas ao ar, só para se divertirem! E como se divertem!      De outro lado, há sempre um esperto que se acha. Pensa que sabe mais que o próprio artista, que pode entrar em sua mente, como se esta fosse uma s...

  O que restou de nós? A carcaça envelhecida, repleta de novas curvas, todas convergindo no sentido oposto ao de nossa vontade. Curvas que contrariam padrões de estética e de beleza e que por isso, se escondem por debaixo dos panos. Uma vontade enorme de ter ao menos lampejos de energia e sensualidade. Ou que fosse só energia. Bastaria para refrigerar nossos pensamentos, fazendo-os fluir. Mas o que resta é muita saudade e pouca esperança.   O que restou pra nós?   Na cabeça, alguns fios de cabelos teimosos, mas também cansados, envelhecidos e sem cor. Uma confusão enorme entre domingos e feriados, já que todos os dias são como feriados, talvez a única vantagem nessa fase da vida.   Nas mãos, dedos frágeis, incapazes de segurar com firmeza o corrimão da escada, ou de apontar a direção que queremos tomar, para que os caminhos se abram...   Nas pernas, a dor insistente, sempre que ousamos sair do sofá ou da cama!     E por falar em cama, o que r...

  Se alguém me perguntar: o que a arte é pra você? Tenho na ponta da língua a resposta. Ela chegou tarde, quando já não havia mais tanto espaço. Avaliou o ambiente numa olhada rápida e então, dirigiu se ao único lugar que restava. Sentou se na última fileira. Lugar desprestigiado, onde não chegavam nem os tons mais agudos, menos ainda os meios tons.  Mesmo assim, acomodou-se do jeito que pôde. Quando as luzes se acenderam, pude vê la sentada naquele canto, que se tornara agora, o lugar mais nobre! Foi quando percebi que a arte é a essência da transformação!

  Hoje pela manhã, recebi a ilustre visita da inspiração. Estava com pressa. Não me esperou empunhar o lápis e um pedaço  de papel, para que eu pudesse transcrever o que ela me soprara aos ouvidos. Olhou me com ar desapontado e se foi. Cheguei a pensar: tá de sacanagem? Depois reconsiderei. Sua missão deve ser dura, muitos caminhos a percorrer, muitas visitas! Passado o susto, raciocinando melhor, lembrei-me de um velho ditado: A sorte não bate duas vezes à sua porta. Ela vem como um raio e vai embora a galope.   Assim é a inspiração.   Se pudéssemos materializá-la, certamente veríamos uma figura feminina, esguia,  trajada com vestidos longos, sapatos de saltos bem pronunciados, de brilho intenso, pretos, com bico fino. A verdadeira personificação da elegância. Completando-lhe o perfil, cabelos presos no alto da cabeça, como se fossem um ponto de referência para fixação dos olhares de seus admiradores!   Convenhamos, não é toda hora que se depara com ...

  SE EU VOLTAR UM DIA     Se eu voltar um dia, farei tudo diferente. Na hora do nascimento, mesmo que eu tome as tradicionais palmadas no traseiro, não vou chorar, só para satisfazer as mentes atrasadas de sses antigos doutores !     Para abrir meus pulmões, no lugar do choro, soltarei um poderoso grito. E ficarei em pé de guerra!    Talvez eu dê risadas. Talvez reclame do frio e da vergonha, de ficar assim exposto, pelado, dependurado pelos pés em situação de risco, de cabeça para baixo, sujeitando-me a engolir o próprio xixi, que porventura, possa escapar !   Talvez eu aproveite a posição incômoda para fazer umas flexões. Talvez eu escape das mãos do médico e improvise um duplo mortal carpado, aterrissando de pé. E ali farei reverência à plateia, no aguardo de efusivo aplauso! Ficarão todos de boca aberta, menos mamãe. Esta estará orgulhosa. E apesar das dores que ainda estará sentindo, murmurará orgulhosa: esse é o meu menino!   Vou desaf...

  Me via ali, parado, como um poste. Fincado no chão, enraizado. Do chão já era parte, figura inerte! Sem passado, sem Horizonte. Que não podia prever um segundo à frente. Que de tão descontente, fechado, ensimesmado. Não tinha presente, não tinha passado!! Que bloqueio é esse que me tolhe? E me faz fraquejar tão de repente? E tu, súbita mudança, de onde vieste? Que sensação é essa que me faz vibrar por inteiro? Eu, que parecia estar dormindo, agora tão agitado! Com pensamentos errantes, fatais, cheirando a pecado? Que bloqueio é esse? Quem é você, poço de mistério? Quem é você, doce pecado?

  CASTIGO   Dez chibatadas merecestes   Apesar de hoje, não caber tais pensamentos!   Pois Remontam a tempos tão contestados!   Práticas antigas, Conceitos ultrapassados!   Dez chibatadas, por teu pecado!   Outras dez, pelo teu medo, por tua covardia!   Dez chibatadas pela agonia que criaste   Outras dez, só por ironia!   Ah! não fosse esses tempos tão modernos, tão reparadores, tão cheios de regras,   Desrespeitaria tuas dores,    E no lugar de flores, te daria   Dez chibatadas, pela ousadia!   Dez chibatadas, por piedade,   Dez chibatadas pela mentira,   E mais dez por vaidade,    Dez chibatadas pela desonra,   Dez pela falsidade   Dez, é chibatada demais?   Aprendestes a lição?   Então, mais dez por compaixão   Dez vezes dez, pelo perdão.